quinta-feira, 29 de maio de 2008

O SOTÃO DO TEMPO

O sabor da Vida está no não sabermos o que vai ser de nós...
Em cada momento estamos a construír a casa em que vamos habitando...
Será que quando é colocada a última telha, quando olhamos para trás e vemos a obra feita, sabemos em Paz disfrutar do que preparámos para nós?

Escrevi uma peça de Teatro. Vai à cena nos dias 31 de Maio e 1 de Junho às 16h30 no Teatro Gil Vicente em Cascais.

A ideia é angariar fundos para ajudar as Irmãzinhas dos Pobres a reconstruírem o telhado da casa de Lisboa onde acolhem os idosos mais desfavorecidos da nossa sociedade.

O programa incluí um espectáculo de abertura, um leilão onde vão estar disponíveis peças de vários artistas, uma pequena peça escrita por Mafalda Pereira e outra peça, um bocadinho menos curta e que dá nome ao evento, escrita por mim.

Quem quiser ajudar...apite!

quarta-feira, 28 de maio de 2008

O ARTISTA

Cada pessoa vê a vida à sua maneira. Somos todos únicos e originais na forma de olhar o mundo mas nem todos somos artistas.
O Artista é aquele que não está preocupado em ver o que o rodeia, não está preocupado em agarrar a realidade, em mudá-la, em analisá-la ou interpretá-la. Um Artista é alguém que simplesmente se esvazia do seu Eu e se põe disponível para receber o que lhe é dado pela natureza, pelas pessoas, pela vida. E depois, cheio daquilo de que se fez parte, transborda sentimentos e emoções das mais diversas formas. E por isso cria. As marcas que a vida deixou nele.

Há um ditado oriental que diz que se queremos tomar nas mãos toda a areia de todo o deserto, temos que abri-las, deixar a areia passar por entre os dedos e assim senti-la toda, porque se fechamos as mãos com ganas de a agarrar, não sentiremos mais que uns míseros grãos de areia.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

"Senta e Sorri"

A procura do nosso lugar no mundo e na vida é uma constante. Questões fundamentais da nossa existência não se descobrem científicamente, não têm respostas matemáticas.
O que queremos é saber de nós, saber como é connosco, saber como viver bem a nossa vida, e a resposta só pode ser pessoal.

Estava a ouvir o testemunho de mais uma pessoa que se procurava. Esta, concretamente tinha posto a vida em "stand-by" enquanto fazia este caminho. Isto a mim não me faz sentido porque acho que a vida é a procura mas isso é outra conversa...

A certa altura, depois de correr mundo e de passar por muitas e diferentes experiências ( engraçado ver como o método experimental pegou!), a esta pessoa foi-lhe dito: "Senta-te e Sorri mas que até o teu fígado sorria!"

Foi um mestre indiano que era seguido por muitos que com ele queriam aprender a meditar. Ele não escrevia livros, não dizia regras nem teóricas nem práticas. " Se queres meditar, senta-te e sorri e verás como aos poucos vais ver melhoras na tua vida!"

Na nossa sociedade ocidental acho que ninguém lhe ia ligar menhuma, principalmente pela parte do aos poucos que bate de frente com as nossas "necessidades" imediatas mas eu fiquei-me com esta!

SENTA-TE E SORRI!

terça-feira, 20 de maio de 2008

FELICIDADE


Acho que é unânime que o que o Homem quer, é ser feliz. O que já não será tão universal é o que cada um entende por Felicidade.
Pessoalmente todos sabemos o que queremos da nossa vida. Uns mais claramente que outros. Nem sempre nos é fácil definir concretamente o que entendemos por felicidade.
Curiosamente, é nas sociedades ditas mais desenvolvidas, em que as populações têm muitas facilidades a nível económico, de satisfação de necessidades básicas,de deslocações, de comunicações, que mais dificilmente ouvimos alguém dizer: " Sou Feliz!"
Normalmente temos ideia que fomos felizes naquela altura, naquele lugar, ou que seremos felizes quando tivermos isto ou aquilo, quando formos desta ou daquela maneira. Parece que nos é dificil reconhecer a felicidade quando a alcançamos e que precisamos da distância temporal para a ver.
No outro dia pensei: " Será isto a felicidade?" Com todas as dificuldades por que passo, com todas as discussões, os desentendimentos, as faltas de amor. Com tudo o que ainda quero alcançar, com as limitações que nem sempre me permitem lá chegar... Será isto a Felicidade?

Fiquei a pensar no que é que é para mim a Felicidade. Não uma definição teórica ou generalista. Não um sinónimo simples e universal mas para mim, Marta, com o que sou, com que é a minha realidade...

Acho que a Felicidade é um dom que precisa de ser acolhido e que tantas vezes o deixamos fugir porque estamos demasiado agarrados a conceitos pré-concebidos, a ilusões, a expectativas irreais que não nos permitem reconhecer a Felicidade no Agora.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

RENÚNCIA


Hoje estáva a pensar que a palavra escolha não devia ser ensinada às crianças. Acho que se fossemos avisados de que temos que fazer renúncias eramos muito mais felizes!

Não quero nada parecer negativa mas a verdade é que há muito a ideia de que como somos livres podemos escolher e isso é a coisa melhor que temos e a grandeza da situação humana.

Esta ideiaparece-me totalmente errada. Não sou livre se posso escolher entre diferentes "coisas", sou livre se puder escolher os próprios critérios da minha escolha!
Escolher, só por si, não é uma expressão da minha liberdade, esta depende das razões pelas quais escolho, logo aí, o podermos escolher não é, sem mais, fantástico.

Além de que, escolher implica sempre uma renuncia, quer dizer que não posso ter tudo, é mais uma manifestação da minha limitação como humano.

Pode parecer desanimador mas se em vez de pensarmos que vamos escolher, pensarmos que vamos renunciar, pode ter no fim resultados mais positivos.
Primeiro porque não vamos à partida atrás do que simplesmente nos apetece, e nesse sentido estamos a ganhar liberdade nos próprios critérios da escolha, e depois porque evita muitas frustrações.

Pensar a opção mais como uma renuncia do que como uma escolha, pode ajudar-nos a crescer, a perceber desde cedo que temos que abdicar de muitas coisas boas, porque é quando temos que decidir esntre dois bens que a questão se coloca mais intensamente...aliás, é aí, nessas decisões mais difíceis mas também mais fundamentais que percebemos que de facto escolher é renunciar.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Aprendendo com os outros...


"A qualidade da nossa vida depende, queiramos ou não, da qualidade dos nossos pensamentos."

Esta frase com que o meu amigo Francisco inicia o último post do seu blog, tem mudado a minha
vida. Não é uma grande novidade, já me têm dito isto, mas a forma clara com que o Francisco o passou para uma simples frase fez com que mais fácilmente pudesse ter presente esta máxima que não se deve esquecer. E entrei mesmo num caminho de mudança, de crescimento interior.

Há alturas em que é difícil. Aliás, acho que é muito mais fácil escrever drama do que comédia, fazer chorar do que fazer rir, isto também na nossa vda , connosco próprios. Mas uma coisa é ir ao teatro, outra coisa é viver sempre "na mó de baixo", ninguém aguenta!!

No desenrolar do dia muita coisa acontece, no interior e no exterior. O que fazemos, o que dizemos, o que ouvimos, as pessoas com quem nos cruzamos. O que sentimos, o que escondemos, o que fomos e o que deixámos de ser. Tudo isto nos interpela de diferentes formas mas se queremos chegar ao fim do dia e ter o saldo positivo, claramente temos que ter pensamento positivo.

Na vida em geral, claro. Saber que vale a pena, ter um rumo a seguir, acreditar que a (nossa)história tem um final feliz, mas também nas coisas mais pequeninas. Acontece-me qualquer coisa que desperta em mim sentimentos e pensamentos negativos. Pode ser tristeza, vergonha, irritação...

PÁRA: Para ver com tempo e clareza
ESCUTA: O coração, os outros, a vida
OLHA: de novo, com confiança, já com os olhos da Esperança e da Alegria

Mas lá está...como tudo, isto implica tempo e disponibilidade, não só para os outros mas para mim também.

( blog do Francsico: www.sudamericalive.blogspot.com)

quinta-feira, 15 de maio de 2008

MORENA

Não negues, confessa
Que tens certa pena
Que as mais raparigas
Te chamem morena.

Pois eu não gostava,
Parece-me a mim,
De ver o teu rosto
Da cor do jasmim.

Eu não...mas enfim
É fraca a razão,
Pois pouco te importa
Que eu goste ou que não.

(...)

Tu és a mais rara
De todas as rosas;
E as coisas mais raras
São mais preciosas.

(...)

E olha que foram
Morenas e bem
As moças mais lindas
De Jerusalém.
E a Virgem Maria
Não sei... mas seria
Morena também.

Moreno era Cristo,
Vê lá depois disto
Se ainda tens pena
Que as mais raparigas
Te chamem morena!

Guerra Junqueiro
A Musa em Férias


Só porque acho graça a isto...será por ser Morena? hehe

PRECALÇOS

Os gregos pensavam a vida como um combate, um lugar à partida hostíl, que era preciso conquistar para se tornar habitável. Esta é uma visão muito diferente da que temos hoje em dia, principalmente no mundo ocidental.
Hoje temos a convicção de que a vida é fácil, ou devia ser, e se não é, algo está mal e já estamos a refilar! Também pode acontecer o contrário e instalarmo-nos no dramazinho.

Eu sou uma daquelas pessoas que tem a sorte de ser mimada pela vida. Sou uma daquelas pessoas que estava convencida de que a vida é para ser fácil e boa. Tive até alturas que não percebia como se podia gostar de viver, ter razões para acordar em cada manhã, quando se vive rodeado de fome, guerra, doença.

Hoje já aprendi que " a vida não é fácil e isso não é mau."Tomei consciência de que é um Mistério mas de facto o sofrimento faz-nos crescer, as contrariedades desinstalam-nos, as dificuldades fortalecem-nos. Com isto não quero dizer que devamos procurar sofrimentos, tenho a vida facilitada e agradeço por isso, mas se não queremos ficar pela mediocridade de uma existência desinteressada e desinteressante, vamo-nos sempre deparar com obstáculos e então vamos poder crescer!

terça-feira, 13 de maio de 2008

CRESCER

Acho que uma vida boa é uma vida dinâmica, que não pára, que está sempre a ser repensada e pronta para mudar, para melhorar. Mas há sempre pilares que uma vez definidos devem ser conservados. Há o que somos, no mais íntimo de nós que deve ir sendo cada vez mais descoberto por nós próprios e sobretudo aceite, respeitado mais do que violentado. E aquelas duas ou três cordas a que nos agarramos, que nos sustentam e que devem ser sempre as mesmas. Podemos ir tratando delas, mantendo-as fortes e seguras, podemos até as ir pintando de cores diferentes porque a vida é um arco - íris, mas não convém que estejamos sempre a mudar de apoios prque se não, quando nos quisermos agarrar podemos correr o risco de já não saber a quê!

Claro que este processo é constante porque somos acima de tudo seres dinâmicos, mas há uma altura da nossa vida em que se torna mais óbvio. Há uma altura em que temos mesmo que pegar "o touro de caras". Passada a fase da definição do tabuleiro de jogo, é preciso tomar consciência dos dados que nos saíram. É preciso perceber bem quais são os nossos pilares, sobre o quê é que construímos a nossa casa. Ver o que é definitivo e inalterável, o que é único e definitório. Conhecermo-nos e Aceitarmo-nos.

Este proceso já pode, só por si ser duro porque implica um "caír na real", um deparar-se consigo mesmo, o que muitas vezes pode não corresponder àquilo que pensámos ser e muito menos àquilo que queremos ser.
Passo seguinte, não menos difícil, definir rumos e, fundamental, definir estratégias, pontos muito concretos que nos permitam dar passos na direcção de nós, que nos permitam crescer por dentro rumo ao Alto, sem nunca nos contentarmos ou desistirmos.

Parece-me que o início do caminho, o salto primeiro em direcção à maturidade é o mais doloroso mas depois...é ter presente que é o caminho de uma vida e que tem de ser percorrido todos os dias!

segunda-feira, 12 de maio de 2008

EXPECTATIVAS


De alguma forma é nisto que assenta a nossa vida. Tem a ver com a nossa tensão para o futuro, com o que nos move. Acho que as expectativas é das coisas difíceis de gerir. É bom sonhar, desejar, esperar. É bom fazer projectos e aguardar resultados mas as expectativas...

As expectativas que se criam muitas vezes não assentam na realidade, nem na nossa nem na do outro. Corremos o risco de jogar num tabuleiro imaginário, de esperar o que não pode vir.
E é tão duro quando tudo nos sai às avessas do que tinhamos pensado. Quando o outro afinal é mesmo o outro e não o que eu queria que ele fosse. Quando eu afinal sou mesmo eu e não o que queria ser.

É me mesmo difícil gerir estas expectativas que saem furadas. Fico a dançar na corda bamba entre egoísmo e altruísmo sem saber para que lado tender. Sem saber que caminho me faz crescer, a mim e ao outro. É um equilibrio difícil este de sonhar o real, de esperar o possível mas mesmo assim desbravar atalhos que podem ser sempre de novo descobertos.

domingo, 11 de maio de 2008

GRITO CALADO

E depois há dias assim, em que as cores são demasiado fortes, em que todo o som é ruído. Fugimos para a toca, voltamos a prendermo-nos já depois de nos termos soltado porque afinal a liberdade é demasiado cara.
O que fazer com tantas emoções, com tantas contradições, com tanta ventania que sopra cá dentro e dessarruma tudo o que tento sempre manter em ordem?
Talvez parar de pensar como sou, como quero ser, como ainda não sou. Já nem quero saber "comos" nem "porquês". Parem de me querer perceber, de querer que eu me perceba.
Não sei. Não sei porque de repente me calo. Não sei porque antes sorria e queria e agora já não.
É assim. É esperar que passe.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Está mesmo bem visto!

"Parece um paradoxo e é uma grande verdade: duas pessoas só crescem em intimidade na medida em que respeitam a sua solidão e a solidão do outro. A solidão é o espaço em que cada um se prepara para receber o outro e se dispõe a dar-se ao outro. Sem solidão, a intimidade é invasão."


in: Não há soluções há caminhos, Vasco P.Magalhães, sj

quinta-feira, 1 de maio de 2008

ABRAÇO



Gostei desta imagem! Não sei porquê mas de repente foi uma boa inspiração para escrever! (Escrevi mesmo pouco em Abril!)

Tenho estado a estudar Kant. A moral Kantiana é no minimo curiosa. Sabendo que Kant é um autor cristão e tentando compreender dentro do contexto social e pessoal aonde ele queria chegar, fiquei a pensar se não terá ficado pela metade na compreensão da mensagem de Cristo.

Cristo não me manda lutar contra a minha sensibilidade e as minhas inclinações para, fria e racionalmente, ser capaz de cumprir deveres. Cristo não me dá uma tábua cheia de regras que devo seguir para vir a ser merecedora da felicidade em outra vida e não nesta.

Cristo sabe muito bem que nós somos um ser complexo, com corpo e alma, razão e sensibilidade, inclinações e desejos e que é muitas vezes dificil, para a nossa vontade, na hora de agir, encontrar acordo entre estas vertentes tantas vezes opostas. Sabe que somos seres marcados pelo amor-de-si e que isso nos determina.

A grande novidade que Cristo nos mostra é que o truque, a realização da vida, a felicidade, aquilo que perseguimos porque nos amamos a nós próprios, é encontrado quando saímos de nós, quando nos abrimos à descoberta do outro. O que pode ser estranho é que precisamos saír para voltar a entrar.

Esta é para mim a maravilha antropológica que tenho vindo a descobrir no maior mandamento da lei de Deus: AMA O PRÓXIMO COMO A TI MESMO.