quinta-feira, 30 de outubro de 2008

PODER NÃO DIZER

Muitas vezes se associa Espontaneidade e Verdade. Entendendo Espontaneidade como o que nos faz mostrar tudo o que nos vai dentro, o que nos faz exteriorizar os primeiros sentimentos e pensamentos, aqueles que surgem em nós sem avisar e que se partilha na intenção de se ser o mais verdadeiro possível.
Não quero acreditar que a minha Verdade seja aquilo que me vem à cabeça e ao coração. Não quero acreditar que eu sou isso.
Entendo por Verdade, aquilo que eu instalo na minha cabeça e no meu coração, ou seja, o resultado da acção da minha liberdade e da minha vontade sobre aquilo que me invade sem eu escolher.
Neste sentido, o poder não dizer é um poder que devemos valorizar! Principalmente nas relações mais próximas. Não é sequer possível que algum dia alguém nos veja na nossa completude, nem isso seria bom. É muito mais construtivo saber ter espaços em nós que são só nossos e que não precisamos de deitar janela fora. E é muito mais descansativo aceitar que também no outro, mesmo naquele que me é mais próximo, haja lugares que não são para mim. Parece-me este o caminho para Amar e não para Controlar nem querer fazer do outro propriedade minha.

Não estou a esconder-me, não estou a faltar à verdade quando não digo tudo o que penso ou sinto. "Mais vale querer o que se diz do que dizer o que se quer" . O que eu quero em mim, o que eu acolhi em liberdade, isso é aquilo que verdadeiramente sou e aí sím, posso discernir o que é pessoal e o que é para partilhar.
Neste sentido a Espontaneidade esconde a Verdade, mais do que a revela.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

AMIZADE

Estava a pensar como as nossas relações podem, inconscientemente, ser marcadas por uma estrutural falta de intimidade, de verdade, de transparência.
É mais ou menos óbvio que não se pode ter muitos amigos, já dizia o Aristóteles. A Amizade, no verdadeiro sentido do termo, implica tempo, implica investimento, implica abertura, disponibilidade e é humanamente impossível dar tudo isto a muita gente.
O desconcertante é quando percebemos que, nas relações que julgamos mais próximas às vezes falta-nos verdade, falta-nos mostrar sem medos o que vai dentro, falta mergulhar fundo no outro, falta abrir as portas todas e receber o outro em minha casa, sem medo de mostrar a cama por fazer.
Ser amigo dá trabalho, ter amigos dá trabalho. Mas nada é mais construtivo do que uma boa amizade!

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

NORMALIDADE

Há sempre alturas em que parece que não se passa nada, em que a vida parece não ter grande interesse.É principalmente notório se pensarmos na quantidades de vezes que nos perguntam " Então e novidades?" e damos por nós sem nada para contar... É fácil mergulharmos no quotidiano, na vidinha sempre igual, entregarmo-nos às obrigações, sem criatividade, e deixarmo-nos levar por uma rotina nem boa nem má.
A verdade é que a vida não tem que ser sempre extraordinária. Não têm que estar sempre a acontecer coisas fantásticas, não tem que ser um drama.
Há realmente alturas em que a tranquilidade impera, em que não se passa nada de especial. Ainda bem, esperemos que seja ssim a maior parte do tempo! É por isso que podemos notar o especial. O nosso Sim à Vida tem que ser um Sim à normalidade. É preciso saber viver o dia-a-dia, é preciso que a rotina não prenda mas liberte, é preciso ser criativo e observador. Porque se quisermos mesmo novidade, é só estar atento, ao que nos rodeia mas também ao que nos vai dentro, porque a forma de olhar e de sentir pode ser sempre nova!

terça-feira, 7 de outubro de 2008

SENTAR

No meio deste turbilhão do que sentimos e do que pensamos, a urgência da questão de perceber onde está a verdade de mim coloca-se quando estas duas partes entram em desacordo!
Não é assim tão estranho isto acontecer.Lembro-me do ditado popular, lembro-me duma epístola de s.Paulo...é muito comum haver conflito entre o que pensamos e o que sentimos, entre a razão e o coração, entre a mente e o corpo. E por um lado até é bom...desinstala-nos e obriga-nos a lutar pela unidade do nosso próprio Ser!

É muito mais difícil fazer o que pensamos do que fazer o que sentimos. A emoção, os desejos, os sentimentos, empurram-nos com mais força. Abanam-nos, tiram-nos o equilibrio e é muito fácil para nós seguirmos por essa porta que se escancara à nossa frente.
Os pensamentos são mais contidos. Dão-se a conhecer, revelam-se e acusam a sua presença, mas não parecem ter grandes preocupações persuasivas...

Quando percebemos a incompatibilidade destas duas vertentes, é muito importante parar, sentar e tomar consciência do que se passa cá dentro. Libertarmo-os de apetites, de facilitismos, de racionalidades excessivas e ganhar distância para procurar a Verdade, a minha verdade. Só assim podemos saber se queremos seguir a Razão ou o Coração.

O trabalho complica-se quando vejo claramente que a Verdade de mim está no que eu estou a pensar e não no que o sentimento me impele a fazer...para que isto não aconteça muitas vezes, parece-me importante a aposta diária num trabalho de auto-conhecimento e aceitação que nos permita unificar o que somos: sentir o que pensamos e pensar o que sentimos!

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

VER A VISTA

É tão fácil distraírmo-nos e não olharmos ao que se passa à nossa volta!
A Pessoa é um Universo tão vasto, tão rico, tão fascinante que fácilmente se basta a si própria e se perde em caminhos interiores. Isto não é mau. Parece-me até positivo que nos saibamos entreter connosco próprios e que dediquemos tempo e vontade a descobrirmo-nos e a surpreendermo-nos alegremente com o que somos e com tudo o que temos para dar.
Mas se for só assim vamos caír num poço muito fundo mas estreito e mais cedo ou mais tarde vamos sentir falta de alargar horizontes e desejos.


No outro dia estava a voltar para casa pela Marginal. Escolhi prepositadamente este caminho porque me aptecia aproveitar o Sol e disfrutar da vista fantástica.
Só dei pelo rio já tinha feito mais de metade do caminho!