terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Ainda antes de acabar o ano...


recordando parte da peça de teatro que escrevi...

Avô:

A vida grita-me adeus.
É isto a velhice.
É o já só olhar para trás
porque é mais vasto o
caminho percorrido do que
o que temos pela frente.
Um dia acordas e perguntas:
“O que foi de mim?”
E dói mais a conjugação no passado
do que o sentimento da ausência.
O que em ti era sonho, projecto, desejo,
não é agora mais do que o leito seco
de um rio onde água já não corre.

[Pegando numa fotografia do seu filho]

Lembras-te quando te segurei na mão para
que desses os primeiros passos?
Querias soltar-te
mas o equilíbrio ainda não era certo.
Então seguravas-te a mim, com força, e...

[Pausa. Volta a colocar a fotografia do filho na mesa e vira-lhe as costas.]

Quantas vezes te esqueces que eu já fui como tu?!
Já a vida foi sonho e oportunidades.
Agora, que a estrada estreitou,
lembra-te que fui eu quem
seguiu à tua frente a desbravar o caminho que
agora percorres, reconhece o meu valor.
Não me deixes perder o orgulho e a dignidade.
Sabes que também eu já tive a vida na mão,
já julguei ter o controle de tudo,
e foi tão bom esse tempo...
in: O Sotão do Tempo
imagem: promenor do flyer de divulgação da peça criado por Catarina Carreiras

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

FELIZ NATAL


Não é de agora...damos por nós e tudo nos deseja " Feliz Natal", desde o autocarro, ao banco, passando pelo saco de supermercado.

Mas o que é que é um Natal Feliz?

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

RITMOS

"Aprende a conhecer o ritmo que governa os homens." Arquíloco, poeta da cidade de Paros, séc. VII a.C.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

CORPOS


Carrego este corpo que não sou eu porque sou muito mais do que ele mas estou enterrada, encarcerada como pinto num ovo.

Sigo como um prisioneiro, com toda a minha especialidade confundida na normalidade de um corpo que todos temos.

Onde está a expressão do que me corre nas veias?

Vejo carne e ossos e orgãos mas não vejo braços nem pernas nem abraços nem passos queridos, só uma cabeça perdida na vista de outros.

Puxo o fio deste peso que arrasto comigo mas parte-se porque a lã não suporta o que me prende e então já não sou eu nem o outro e o mundo não chega para me instalar.