quarta-feira, 3 de junho de 2009

Saudades

Hoje tenho saudades de tempos tranquilos em que as coisas são aquilo que parecem ser.
Hoje tenho saudades da normalidade. Saudades de sentimentos, de sons, de cheiros.
Saudades de ser criança e de rir porque estou alegre, chorar porque estou triste. De ser criança e de acreditar que o mundo é bom, ou nem saber o que é o mundo porque está tudo na rua que desco de bicicleta, muito rápido, entre gritos e gargalhadas. " Para lá do cruzamento não se pode ir." também não interessava, estava tudo ali. Naquela rua íngreme e estreita, de casas altas e janelas pequenas de onde pendem lençóis brancos a pingar água.
Mas um dia não parei no cruzamento...ou tomei consciência dele....acho que é isto mesmo, as coisas sempre foram assim e a vida não é mais do que um ir reparando...como se tivessemos ao sábado à tarde a passaear num museu que já conhecemos de cor. Há lugares assim, onde voltamos quando nos sentimos demasiado desconfortáveis, ou quando não sentimos nada. Como quando vamos outra vez ao museu no sábado à tarde. Não tinhamos mais para onde ir e vagueamos por ali a ver as mesmas coisas de sempre, ou a já não ver as mesmas coisas de sempre. De repente, sem saber porquê, vemos aquilo que sempre ali esteve pela primeira vez. Nunca tinhamos reparado naquelas cores tão bonitas.
Acho que a vida é assim...de repente e sem sabermos porquê...

2 comentários:

António Valério,sj disse...

Que texto tão bonito... estava mesmo com saudades de te ler. Sinto-me tantas vezes assim, a querer voltar à infância, sem preocupações, inocente... mas depois vejo que já é tarde. Mas que temos a capacidade de fazer o que já fizémos, porque não? encontramos sempre o nosso espaço e a nossa pequena rua, que nunca desaparece. beijinhos*

Francisco Vasconcelos disse...

Que maravilha, Marta!!
Tao longe e tao perto com os teus textos. Um beijo grd de saudades