quinta-feira, 30 de outubro de 2008

PODER NÃO DIZER

Muitas vezes se associa Espontaneidade e Verdade. Entendendo Espontaneidade como o que nos faz mostrar tudo o que nos vai dentro, o que nos faz exteriorizar os primeiros sentimentos e pensamentos, aqueles que surgem em nós sem avisar e que se partilha na intenção de se ser o mais verdadeiro possível.
Não quero acreditar que a minha Verdade seja aquilo que me vem à cabeça e ao coração. Não quero acreditar que eu sou isso.
Entendo por Verdade, aquilo que eu instalo na minha cabeça e no meu coração, ou seja, o resultado da acção da minha liberdade e da minha vontade sobre aquilo que me invade sem eu escolher.
Neste sentido, o poder não dizer é um poder que devemos valorizar! Principalmente nas relações mais próximas. Não é sequer possível que algum dia alguém nos veja na nossa completude, nem isso seria bom. É muito mais construtivo saber ter espaços em nós que são só nossos e que não precisamos de deitar janela fora. E é muito mais descansativo aceitar que também no outro, mesmo naquele que me é mais próximo, haja lugares que não são para mim. Parece-me este o caminho para Amar e não para Controlar nem querer fazer do outro propriedade minha.

Não estou a esconder-me, não estou a faltar à verdade quando não digo tudo o que penso ou sinto. "Mais vale querer o que se diz do que dizer o que se quer" . O que eu quero em mim, o que eu acolhi em liberdade, isso é aquilo que verdadeiramente sou e aí sím, posso discernir o que é pessoal e o que é para partilhar.
Neste sentido a Espontaneidade esconde a Verdade, mais do que a revela.

3 comentários:

MARta disse...

um bocadinho na sequência do "aprender a calar" e completando o que queria dizer em "amizade"...

Anónimo disse...

Muito bom post Marta, verdadeiramente apreender a calar é fundamental hoje em dia. O valor de hoje é de dizer tudo o que vem à cabeça a famosa "eu sou muito verdadeiro por isso digo..." Mas será que isso é verdade. Acredito que a verdade é eterna, e não fulminante. O meu principio é:" o que disser digo na verdade, mas não tenho de contar toda a cerdade". Há verdades que são demasiado pessoais. Obrigado

Anónimo disse...

Marta, és um verdadeiro talento a escrever! Nunca percas este espaço que dominas tao bem e tornas os pensamentos tao claros. Mil beijinhos