quarta-feira, 11 de junho de 2008

CORAÇÕES

"Ó menina pare lá de mexer o café que nem lhe pôs açucar!"

Chegava-me um cheiro a bolo.

"Ai Maria...não acredito...vou saír daqui a rebolar!"

"Deixe-se lá de coisas e coma mas é uma fatia."

Serviu-me um pouco daquela delícia num prato banhado com uma lágrima que não conseguiu conter.

"Este era o que o meu Rui mais gostava..." disse para ninguém ouvir.

Rui era o único filho da Maria. Morreu debaixo de um tractor.

Tirei os olhos do café e sorri enquanto levava uma garfada de bolo à boca. Fixei Maria por uns instantes. Ela rapidamente voltava à normalidade, ainda mais despachada para disfarçar aquele desembrulhar do coração.


Fiquei a pensar que o que vemos de alguém é sempre uma máscara do que lá vai dentro. Que não há vidas sem sofrimento. Que o que nos diferencia não é o que somos mas o como somos e que a simplicidade mais do que um dom, é uma conquista!

1 comentário:

Jo disse...

"Fiquei a pensar que o que vemos de alguém é sempre uma máscara do que lá vai dentro. Que não há vidas sem sofrimento. Que o que nos diferencia não é o que somos mas o como somos e que a simplicidade mais do que um dom, é uma conquista!"

Apeteceu-me repetir..!

Concordo! :)