quinta-feira, 24 de abril de 2008

AMAR PARA VER




"Todos os dias a via passar. De manhã ou à tarde. Às vezes à noite. Vinha a sorrir ou ia de cara fechada. Passava arranjada ou como quem não quer nada. Nunca lhe consegui encontrar um padrão. Nunca soube a que horas viria, só sabia que a via e a espera constante do coração dava sentido àquele estúpido emprego que me obrigava a ficar 16horas por dia parado no mesmo sitio.
Tantas vezes me olhou com aqueles olhos só dela mas não sei se alguma vez me viu. Sorri-lhe para esconder o tremor que me invadia de cada vez que a via.
Sonhava acordado. Quem seria? Gostava daqui ou queria saír? Andava sozinha...alimentava a minha esperança. Em quem acreditaria?
Tantas vezes pensei nos gostos que partilharíamos, nos caminhos que me levaria a percorrer...para onde seguiria?"

É bonito perceber como o Amor nos faz olhar o outro e vê-lo como uma realidade única, um romance inacabado, um mistério que tem sempre mais que desvendar.

terça-feira, 22 de abril de 2008

SABER ESPERAR


Na vida estamos sempre à espera. Pode ser do comboio, do jantar, do ordenado. Pode ser dum amigo que demora, de um filho que se traz dentro. Há esperas curtas e esperas mais longas mas, normalmente, dependem de algo exterior e, por isso, temos de esperar.

Mas há esperas estruturais, que nos definem. É aquilo de que abrimos mão no Agora em função do Bem Maior que...esperamos!
É bonito acolher esta renúncia no coração e educar-nos na docilidade ao Tempo que é eterno.
O Agora é efémero e quando escolhemos, por amor, prescindir deste "já" que temos pela Esperança no Futuro que (ainda) não nos pertence, então o mundo abre-se e torna-se grande. Já não é nosso só o que somos mas também a construção do que queremos ser. E se sonhamos com Mais, então vale a pena esperar!!

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Um bocadinho de mim...


Amanhã faço anos.Não muitos. Sempre gostei imenso de fazer anos. Ainda gosto. Mas este ano está a ser diferente. Está a chover. O ano passado estava com o Sol, o Mar e a Serra na minha praia. Por dentro o tempo também não está estável. Tem sido assim já há uns dias...não faz sol nem chuva, não está calor nem frio. Há alturas assim, em que parece que não há disposições que me movam. A unica cor é o cinzento mas esta até já se tornou numa companhia agradável, talvez até a única que me apetece. O Silêncio está bom de se ouvir ( noto que também aqui já não escrevia há quase 1semana...).

Normalmente nesta altura agradeço especialmente o dom da (minha) vida. Este ano não é excepção. Mas agora tenho que aprender a reconhecer verdadeiramente que a Vida é um dom. Um presente bom. Um presente especial. Recebi-o sem porquê mas também não o pude recusar. Não se recusam presentes. A particularidade é que este presente não só é intransmissível como não pode ser deixado esquecido no fundo de um armário. Temos que o usar. Como não tem instruções e não percebemos bem para que serve...podemos usálo como a nossa imaginação quiser. O importante é fazê-lo crescer, dár-lhe utilidade e partilhá-lo.No Fundo...Disfrutar!

quinta-feira, 10 de abril de 2008

SER QUEM SE QUER


A grandeza do ser humano assenta na possibilidade de se ir fazendo.Como uma obra de arte que é completada pelo olhar de cada observador. Somos seres vivos, animais, como tantos outros, mas o que faz de nós seres humanos é o "ir sendo".

É originário o conhecimento que temos de nós próprios, sabemos muito bem quem somos. Mas qual é, de facto, o conteúdo da preposição "Eu sou eu", quem é este Eu que tão bem conheço?
O Mistério está precisamente aqui: "trabalhador", "fiel", "orgulhoso"...nenhuma característica é verdadeiramente definitória de um sujeito porque podemos sempre mudar.

É certo que nascemos à partida com determinados "trunfos na manga", cada um com os seus dons. Temos características positivas e outras não tanto, mas o que de facto nos define são as nossas possibilidades.

É bom quando encontramos pessoas que sabem muito bem quem são. Sabem bem as suas características, aceitam-se tal e qual como são. Isto não quer dizer que sejam pessoas conformadas, mas sabendo que o maior dom que têm é serem aquilo que querem ser...desenham o mapa e põem-se ao caminho!

segunda-feira, 7 de abril de 2008

SIMPLESMENTE ESTAR

Pessoas a ir, a vir, a chegar e a partir. Pessoas que falam, que gritam, que exigem. Pessoas que trabalham, que não param e têm sempre tanto para fazer. Pessoas que estão?
Acho que muitas vezes nos impomos escapes que nos permitam não encarar o constragimento do silêncio, do "não saber o que dizer", de olhar nos olhos. Parar e ficar pode não ser fácil. Saltar muros, quebrar distâncias e fazermo-nos perto para podermos simplesmente estar, é algo que se aprende...estando.

Implica estar disponível para olhar para fora,ter atenção ao outro para ouvir mais do que as suas palavras. Nem sempre o fazemos e muitas vezes é mesmo preciso que "gritem" por nós para desviarmos o olhar daquilo que somos e atentarmos ao que nos rodeia, como quem olha para um Mistério que pode sempre ser mais desvendado.

São momentos grandes quando podemos assistir a um coração que se abre, quando somos o abrigo que acolhe a intimidade do outro. Compreendemos o que verdadeiramente somos, pequeninos. Porque nem precisamos de falar, basta estarmos para sermos instrumentos da verdadeira Presença que ampara.

domingo, 6 de abril de 2008

SAÍR DE SI


Perceber que a vida é uma jornada com um princípio definido e um termo por definir. Perceber que temos na mão o papel e a caneta com que desenhar o mapa que queremos seguir, é muito bom!
Depois percebemos que há Alguém que nos dá o que precisamos para percorrer este caminho, Alguém que faz o caminho connosco. É bom, mas pode não ser óbvio à partida o quanto este caminhar de mão dada com outro pode ser libertador.
É um grande Mistério, mas é sem dúvida o segredo para uma maximização da existência.
Não sei porquê mas...vale a pena experimentar...até para me dizerem se se confirma ou não...é pelo serviço que se alcança a Alegria?

quinta-feira, 3 de abril de 2008

SAUDADES DE AMOR

Nunca te escrevi, nunca soube o que te dizer. Nunca te senti.
Nunca soube por onde tecer aquele pano fino que nos cobre quando amamos,
Quando nas mãos tomamos por nosso um coração que é de outro,
desse outro que não conhecemos mas que nos dá o que procuramos quando, sem querer, perdemos o que nos prende aqui, o Amor.

O Amor que nos invade, que nos arranca a pele num grito intimo que sofoca.
Esta sede que nos amarra à fonte da àgua corrente que sabemos existir mas para lá não temos por onde ir.
Porque estamos evadidos, libertos do que nos suporta.
Não sabemos como refazer as linhas finas de que um dia nos soltámos, sem sabermos que fugíamos daquilo que por força perseguíamos: O Amor.

terça-feira, 1 de abril de 2008

ROTINA

É engraçado como já me revoltei contra a repetição imposta de actos que sempre me pareciam entediantes. Como recusei a minha boa vontade no desempenho de tarefas só porque não tinha escolhido fazê-las.

Acho que é normal...Há sempre um desejo de ócio que de vez em quando se manifesta de forma mais aguda. Já dizia o Pessoa: " Que bom ter um livro para ler e não o fazer". Parece que somos mais livres se pudermos fazer o que nos aptece, ou quando nos aptece.

Grande reviravolta!

Quando um dia percebi que a rotina liberta! Pode ser de mim...sempre com a cabeça longe, é fundamental ter alguma coisa que me prenda à terra e não me deixe perder o rumo. Mas acho que tendencialmente não somos seres constantes, os nossos desejos não são ordenados e os apetites não são todos para serem satisfeitos...se queremos ser nós a ter mão neles e não o contrário.

Quando um dia percebemos que a vida só o é na medida em que a vivemos e que nos cabe a nós decidir como a vivemos, então compreendemos que somos muito limitados, que nos é dado um jogo à partida e não fomos nós que escolhemos as cartas.

Opções: ou nos "revoltamos contra o sistema", atiramos as cartas para a mesa e ficamos a ver, ou tiramos o melhor partido do que temos e jogamos para ganhar.

Para isso é preciso estratégia. Rumo bem definido, passos bem calculados, disciplina, método...no fundo, uma rotina que mantenha o ritmo do jogo. Depois, claro, humor, jogo de cintura e uma boa dose de risco porque o jogo é para ser divertido...como a vida!