terça-feira, 1 de abril de 2008

ROTINA

É engraçado como já me revoltei contra a repetição imposta de actos que sempre me pareciam entediantes. Como recusei a minha boa vontade no desempenho de tarefas só porque não tinha escolhido fazê-las.

Acho que é normal...Há sempre um desejo de ócio que de vez em quando se manifesta de forma mais aguda. Já dizia o Pessoa: " Que bom ter um livro para ler e não o fazer". Parece que somos mais livres se pudermos fazer o que nos aptece, ou quando nos aptece.

Grande reviravolta!

Quando um dia percebi que a rotina liberta! Pode ser de mim...sempre com a cabeça longe, é fundamental ter alguma coisa que me prenda à terra e não me deixe perder o rumo. Mas acho que tendencialmente não somos seres constantes, os nossos desejos não são ordenados e os apetites não são todos para serem satisfeitos...se queremos ser nós a ter mão neles e não o contrário.

Quando um dia percebemos que a vida só o é na medida em que a vivemos e que nos cabe a nós decidir como a vivemos, então compreendemos que somos muito limitados, que nos é dado um jogo à partida e não fomos nós que escolhemos as cartas.

Opções: ou nos "revoltamos contra o sistema", atiramos as cartas para a mesa e ficamos a ver, ou tiramos o melhor partido do que temos e jogamos para ganhar.

Para isso é preciso estratégia. Rumo bem definido, passos bem calculados, disciplina, método...no fundo, uma rotina que mantenha o ritmo do jogo. Depois, claro, humor, jogo de cintura e uma boa dose de risco porque o jogo é para ser divertido...como a vida!

5 comentários:

Anónimo disse...

Bom dia Marta;

"Então compreendemos que somos muito limitados, que nos é dado um jogo à partida e não fomos nós que escolhemos as cartas".
Esta frase deixou-me a pensar toda a manhã. Deixou-me a pensar porque me reduziu as espectativas. E estas são perguntas que me coloquei:
1) Se somos limitados, não somos imagem de Deus.
2)Se nós não escolhemos o nosso jogo, estamos pré-destinados.

E então a liberdade Humana? Onde a colocamos? A opção da relação transformativa do amor onde fica? Se não escolhemos os nossos jogos, o que escolhemos? O ser de relação onde nos pode levar?

Um bom dia :)

MARta disse...

Bom Dia!

Assim de repente o que me ocorreu responder foi:
1) uma imagem é sempre limitada ...tem as limitações de ser...uma imagem!
2) não escolhemos o jogo mas escolhemos o que fazer com ele

de qualquer maneira...não puxe por mim em relação à questão da Liberdade... ;)

Anónimo disse...

Marta; desculpe, mas estou a gostar da nossa conversa. Como sempre sinta-se livre de responder ou não.
Tem toda a razão quando diz que a imagem é limitada, por isso, um exemplo ou um simbolo nunca deve ser explicado, vale por si, a explicação empobrece em todos os sentidos aquilo que representa.
Quanto à liberdade... podemos escolher várias escolas. Os estoicos, devemos sofrer até ao fim; os deterministas, onde a teoria somos destinados assim; o existencialismo, onde a vida é uma fadiga que temos que viver. Este ultimo ponto foi o que mais me chamou à atenção, porque pareceu-me que o seu texto foi tocar neste ponto (pareceu-me).
Na realidade a minha visão da liberdade é diferente, a minha visão da liberdade é a imagem de um oleiro que tem o barro à sua frente, pronto a criar... eu com a minha liberdade posso criar o que quero (aqui concordamos, o jogo está lançado temos que saber jogar).
Como diria um autor que li: "Toda a minha vida nem sempre fiz a vontade de Deus, mas ao querer para mim aquela vontade pessoal, Deus agarrou-a também para Ele". A história da liberdade é a história do maior tesouro que podemos ter...
Se quiser podemos continuar esta conversa por outros meios :)
Obrigado e uma boa tarde

MARta disse...

caro Anónimo:

hoje tive uma aula em que me lembrei de si...era sobre leibniz e acabou numa discussão acessa sobre a liberdade e a possibilidade de a nossa identidade ser aquilo que fazemos a cada momento.

percebo porque o meu texto lhe "cheirou" a existencialismo...passa tambem por aí...

quanto ao "barro na mão de oleiro"...o que me parece é que não escolhemos a quantidade de barro que temos para moldar o que à partida nos condiciona o resultado final.

de qualquer maneira, por agora...tento não pensar muito nisto...

há que descansar a mente de vez em quando e não entrar em duvidas sem fim!

Anónimo disse...

Compreendo-a perfeitamente. Quando me licenciei em Filosofia, este tema foi sempre o meu campo de batalha. Muitas vezes, por muitas palavras que tentemos dizer, o melhor mesmo é estar calado. Como diria uma amigo meu: Mais vale estar calado e parecer estudipo, que abrir a boca e confirma-lo. :)

Um dia o discipulo digiriu-se ao mestre e perguntou-lhe: De onde vem o mundo? de onde vem as plantas? de onde vem os rios e o mar? De onde vem o céu? ...
O mestre sorriu por um longo momento e depois do silêncio perguntou-lhe: E de onde veio essa tua pergunta?

"A criança abria a boca de espanto e sorria. Acreditou. Não é que tivesse lógica, mas era o pai que lhe dizia!"
Não é importante a quantidade, mas o que faço com ela ;)
Dizia St. Teresa de àvila que im dia perguntaram-lhe como é que ela iria cosntrui um mosteiro só com 3 denários, ela respondeu-lhes: Na verdade eu e três denários não somos nada... mas a verdade é que eu 3 denários e Deus, podemos comprar o mundo inteiro".

Uma boa noite (em silêncio)