quarta-feira, 12 de março de 2008

ITHAKA

Quando te puseres a caminho de Itaca,
deseja que a tua viagem seja longa,
cheia de aventura, cheia de conhecimentos.
Nunca tenhas medo de Lestrígones ou de Ciclopes,
nem sequer de um Posídon irascível

Tu não hás-de encontrar tais criaturas no teu caminho
e o teu pensamento será sublime como fino o teu sentimento
pensamento e sentimento que te tocarão no espírito e no teu corpo.

Não encontrarás Lestrígones nem Ciclopes
nem o selvagem Posídon
a não ser se pensares sempre neles
a não ser se a tua alma os tenha posto de pé à tua frente.

Deseja sempre que a tua viagem seja longa;
que por lá passes muitas manhãs de verão
quando com tamanho prazer e tamanha alegria
acostares a portos vistos pela primeira vez

Possas parar em alguns dos mercados finícios
para comprares do melhor que houver
mãe-pérola e coral, âmbar, marfim
perfumes afrodisíacos de toda a espécie
compra tantos perfumes afrodisíacos quantos puderes
Possas tu ir até várias cidades egípcias
para aprender e aprender, na verdade, com aqueles que lá aprenderam

Mas na tua mente Ítaca deve sempre estar.
Chegar lá é a tua principal meta.
Mas não apresses a tua jornada de qualquer maneira.
É melhor que ela dure muitos anos
e que, depois, quando fores velho, acostes finalmente a Ítaca.
Já homem rico com tudo o que tiveres ganhado no caminho,
e não esperando encontrares mais nenhuma riqueza por lá.

Porque Ítaca deu-te a mais querida das viagens.
Sem ela jamais terias partido em direcção a ti.
E não há nada mais que ela te pudesse dar.

E se Ítaca te parecer demasiadamente estreita, não te deixes enganar.
Sábio como te tornaste agora, com a experiência da vida, já deves ter compreendido finalmente o que Ítaca representa.

Autor: Constantino Cavafy Tradução: António de Castro Caeiro

1 comentário:

Anónimo disse...

brutal!